sábado, 20 de junho de 2009

Um certo encontro com o destino;

Eu andava devagar, contornava a calçada com cuidado notório, contava meus passos, acho que estava no de número 39 quando o encontrei.
Sua aparência não era das melhores, na realidade, ele era realmente feio. As manchas na pele, barba por fazer e alguns fios brancos davam a ele uma aparência bem envelhecida, talvez uns 48 anos, por aí.
A cabeça baixa me chamou atenção. Ele estava triste. Parei de contar os passos quando, de relance, meus olhos se encontraram com os dele. O azul perfeito estava embaçado pelas lágrimas, estas que lutavam para não escorrer. E eu senti meu coração acelerar ao perceber que ele também me fitava com certa curiosidade. Sua expressão surpresa e confusa me fez estremcer um pouco.
Cerrei meus olhos com tamanha força que deve ter enrugado meu rosto inteiro. Mas não liguei pra isso. Não ligava pra mais nada desde que enxerguei aquele senhor tristonho. Mas tarde descobri que ele se chamava Paulo e que, assim como meus passos, tinha 39 anos, quase 40. Coincidência ou não, aquele dia já estava ficando estranho demais.
Percebi que o homem vinha em minha direção. Seus passos eram rápidos, pareciam acompanhar o ritmo com que meu coração batia. Na realidade, ele já não parecia andar, mas flutuar sobre o chão de cimento contrastado por algumas gramíneas que teimavam em fazer furinhos nele.
Paulo, estranho até aquele momento, me deu bom dia, perguntou meu nome e fomos nos sentar. Conversamos como amigos de infância. Ele parecia saber de todos os meus problemas, como se tivesse decorado um manual feito somente para mim.
Levantamo-nos os dois ao mesmo tempo, então ele falou a frase mais estranha de toda a conversa: "Obrigado por me fazer sorrir nesse dia tão dificil. Eu sabia que iria te encontrar novamente, e ainda haverão muitas outras, você vai ver." Como assim me encontrar novamente? Eu já o conhecia? Talvez ele fosse louco.. Bom, não importa, até porque, em algum lugar do lado esquerdo do meu peito, eu também tinha a estranha sensação de dejavu.
Já não me lembrava qual era meu objetivo ao começar a contar os passos. Talvez o destino tivesse providenciado tudo. Então coloquei-me no caminho de volta para casa. Um segundo depois vi meu velho(ou novo, como você quiser chamá-lo) amigo desaparecer no meio da multidão que, assim como eu, também parecia andar contando os passos. O que o destino haveria de revelar-lhes?


mariana andrade*

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