quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Impossivel, (continuação)

É, por um momento eu fiquei em dúvida se realmente havia me ocorrido uma queda ou se eu acordaria a qualquer momento do sonho louco. Foi nessa hora que me veio a dor. Minha cabeça latejava e, por mais que eu tenha tentado, não consegui quantas vezes meus ossos pareciam ter se deslocado do lugar correto. Uma mania que me persegue. Eu conto lajotas, passos, dias, listras, pensamentos, movimentos. Mania que falhou quando eu mais precisava, mas não me deixei abalar por isso.
Percebi que meus olhos ainda estavam fechados, então os abri e observei a paisagem. Um jardim, um enorme, talvez até desproporcional, jardim. Era repleto de flores, tomado por cores. Uma grande cachoeira saía em ritmo intenso de dentro das pedras. Isso mesmo, as cachoeiras localizavam-se em pequenos furos nas numerosas pedras que cercavam o local.
Espere um momento. Furos, sim, pequenos furos. O que havia de ter acontecido, afinal? Olhei para cima, e admito que realmente me assustei com o que vi. Pra falar a verdade, me assustei com o que não vi. Já não estavam presentes a floresta escura, o brilho, o banco. Havia somente o céu azul com nuvens branquinhas. Era como se, por um portal invisível, eu tivesse sido levada a outra realidade, totalmente diferente da anterior, por sinal.
Ainda em choque, levantei e olhei em volta. Haveria mais alguém ali? Quero dizer, como um lugar tão extraordinário poderia estar vazio? Tudo bem, tudo bem, algo em minha cabeça dizia que aquele lugar não existia realmente. Crianças tem uma grande imaginação, afinal. Criança. Talvez eu seja isso mesmo, pois decidi-me por ignorar por completo o que a razão me dizia e simplesmente aproveitar cada momento naquele pedacinho do céu.
Meus olhos me obrigaram a dar um grande beliscão em mim mesma – e sim, doeu. Na verdade está roxo até agora -. Enquanto eu observava o “mundinho” que a pouco havia descoberto, algo surgiu bem ao meu lado. Um bloco de anotações e uma caneta, na realidade, haviam três canetas. Balancei a cabeça freneticamente, esperava que alguma solução dorminhoca acordasse com o suposto terremoto, mas, como era de costume, nada aconteceu.
Abri o bloquinho e encontrei algumas palavras em sua capa.
“E como mágica surge um novo mundo a nossa frente. Sim, de certa forma você está sozinha aí, mas não pense que poderá agir de qualquer maneira, sempre haverá limitações no coração de um ser humano. O que lhe peço é que escreva cada detalhe dos seus dias nesse caderno, e não me pergunte se estes serão muitos ou poucos, você não obterá respostas tão cedo. Há coisas que devemos descobrir por nós mesmos. Procure não me esconder nada, mentira tem as pernas curtas e segredos são descobertos antes que possamos dizer a palavra ‘estranho’.
Não tema, sempre existirão coisas que parecem impossíveis no primeiro momento, mas de uma hora pra outra a mente clareia. Por enquanto preocupe-se apenas com uma caligrafia legível, o resto...logo você descobrirá. É uma promessa de seu mais novo companheiro.”

Sim, era uma dedicatória, bem estranha, eu sei, mas que me deu certo alivio.
E as coisas estranhas estavam apenas começando.

(Continua...)

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