sábado, 7 de dezembro de 2013

um pouco de todo o agora

eu enxugo a lágrima que molharia o papel, pra não tornar frágil mais uma coisa além do meu coração. Fico atenta à gota que escorre pelo rosto, mas deixo que cumpra o caminho inteiro, só atrapalho seu trajeto quando chega ao queixo. se ela cai na folha em branco, a ponta da caneta tem força suficiente pra rasgar a tela dos futuros versos. e se já tem dores escritas, são borradas. ilustração infeliz da realidade do eu-lírico, do eu-mesma. retrato da falta de rimas e de risos, bagunça traduzida em prosa poética.
já quis tantas vezes me cortar a pele por latências sentimentais passadas, mas não corto nenhuma página. os riscos de cada palavra arranham o caderno, são agulhas afiadas, enfiadas no palco onde a vida realiza shows de horror, de amor, de humor. quando ando distraída e piso em uma delas, sangro letras nervosas, desesperadas.
costuro umas lembranças ainda abertas, passo dias-novos pelos furos da pele, pelos poros que começam a suar cansaço emocional. acordo cada célula com a luz que me invade corpo e alma, e sigo ardendo o calor das eternas novidades: o sol de cada dia, o azul que é visto ao olhar pra cima, o novo ciclo. sei que todas essas idas e vindas que movimentam a rotina também movem mundos em meu interior. sopro no ar cada pequena esperança ou angústia, insisto no de sempre: transformar sensações em palavras.

Um comentário:

Stella Rodrigues disse...

todo nosso eu será esquecido daqui a um tempo, mas é bom deixar nossos registros, mesmo que dramáticos pra terem o que lembrar.