segunda-feira, 12 de agosto de 2013

das dores efêmeras (ou não)

ela vai soletrar meu nome
com letras quentes de urgência
com a falta de consciência
que sempre a consome.

ela vai ferir o céu,
levantar os braços
e sem embaraço
vai tirar seu véu.

chegará sombria
os olhos escuros, fundos
andará sem rumo
até a casa quase vazia.

baterá na porta
medroso, abrirei
eu que já não sei
de sua vida torta.

ela não tem tempo
não me conta estórias
esconde as memórias
as larga no vento.

entra no meu quarto
se despe até da alma
me toca, me acalma
me oferece o tato.

um jeito ela tem
de embaralhar-me o peito
e então me rouba o jeito
me faz clamar: "vem!"

é rápido seu gesto
efêmero o sorriso
quando, perdendo o juízo,
grita um amor desonesto.

o ritual termina
me recomponho e penso
com o corpo ainda tenso
o quanto ela me desanima.

veste-se e sai descalça
foge bem de mansinho
dou um adeus baixinho
enquanto a chuva a embaça.

fecho as cortinas
escondo a janela
fica a imagem dela
e das andorinhas.

[pra dor, liberdade
ou morfina]

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