quinta-feira, 20 de outubro de 2011

às avessas.

dos dias em que a ventania muda a paisagem de dentro, destrói as antigas plantações, leva pra longe as flores recém-plantadas e deixa as que já estão quase mortas, faz sumir o cheiro de vida doce que haveria de permanecer por tanto, tanto tempo, aquele foi o pior.
caem como chuva  pedaços de gelo no coração, e derretem com o calor que faz quando a alma lembra que ainda existe alguma coisa a aquecendo. e transborda a dor escondida por meses, mantida trancada, secreta, até acharem a chave e abrirem a porta.
surgiram, então, ventos novos. e têm trazido, têm levado, têm bagunçado. e a alma escorre todas as vezes que lembra do que já não faz parte. ou do que é, apenas - e quem sabe - em parte.
cada pedaço dilacerado que sobra é resto do que já foi. cada poesia inacabada, lotada de medo e de mágoa, faz parte de um passado tão próximo que prende como corrente as expectativas de bom futuro. cada gota de fé e de força se esvai com o tempo.
não.
não.
não é tanta tristeza assim. 
mas quem ouve a morena de madrugada, despejando a fraqueza no travesseiro, desmerecendo a si mesma com todo o nervosismo e toda a culpa que fez nascer e morrer no peito, acaba percebendo.
não.
não é tanta tristeza assim.
mas eis uma verdade que se mostra a cada dia:
eu sinto muito.

e, aproveitando a ambiguidade,
muito medo.

Um comentário:

Maria Midlej disse...

você é completa, moça. :D
E completou meu dia com essa leitura linda.

;*