sábado, 27 de junho de 2009

O sorriso que restou;

No começo, eu sentia muito frio. Estava coberta por várias camadas de roupa. Casacos e mais casacos escondiam meu rosto. Mas tudo bem, eu não queria mesmo mostrá-lo naquele momento. Meus olhos estavam inchados por tanto pranto. Meus lábios tremiam. MInha alma despedaçava-se aos poucos.
Com minhas mãos trêmulas nos bolsos, eu saí de casa em direção a lugar nenhum. Sempre que eu andava um pouco acontecia algo bom, mas parecia que aquela tarde não seria como as outras...
Eram quase 17:00 h e a pracinha que eu costumava ir estava vazia, a não ser por alguns jovens que conversavam sobre essas modinhas que me irritam tanto. O banco recém-pintado de verde não me chamou tanta atenção. Sem pensar muito, andei até o parquinho.
Desde criança eu morava ali e, se eu me lembro bem, aquele balanço tinha mais ou menos a minha idade. Tantas histórias eu vivi ali, tantas lágrimas eu derramei enquanto tentava me embalar sem a ajuda dos pés.. Me afoguei em lembranças e nem percebi que já estava sentada no mesmo balanço. Como eu fazia antes, tomei impulso, e voei.
O vento em meu rosto corado trazia consigo tudo o que eu havia deixado pra trás, Toda a alma de uma criança corria em mim. A sinceridade, a simplicidade, a coragem, a entrega.
Tirei os sapatos de marca e deixei-os de lado. Pus os pés na caixinha de areia e tentei enterrá-los. Eu sempre me mexia demais e acabava caindo. Dessa vez, não foi diferente. E comecei a rir como louca. Eu estava feliz de novo.
Livrei-me dos casacos. Já não sentia mais frio. Eu havia renascido. Havia me resgatado. Quebrei as grades da minha prisão interior. Tanto tempo dentro dela me fez esquecer onde estavam as chaves, Eu as encontrei novamente.
Saí andando pela rua, sem casacos e com os sapatos na mão. Não havia notado as nuvens carregadas sobre mim. Eu nunca gostei de chuva. Para mim, as nuvens choravam.
Os pingos vieram sem esperar muito tempo. Meus cabelos ficaram encharcados, assim como minhas roupas. Um sorriso em meus lábios, as lágrimas em meus olhos.
Percebi que, por todo esse tempo, o choro das nuvens era de alegria. E elas me contegiaram.

A multidão passava ao meu lado, mas eu continuei ali. Chorando, sorrindo.
Voltei ao passado, mudei o presente e abri uma nova porta pro futuro.
mariana andrade*

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