quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Impossivel, (Conclusão,)

Olhei pra trás em um gesto rápido, meu pescoço doeu, fez-me sentir uma dor aguda que parecia me consumir por inteira. Levei minha mão até a nuca e senti algo passar por mim. Por um rápido reflexo eu olhei pra trás. Não havia nada. Era apenas eu. Eu mesma. Agora cercada pelo infinito breu que, por mais que eu lutasse contra isso, me deixava com medo.



Percebi que eu ainda não tinha olhado o que realmente existia a minha volta, quero dizer, talvez a minha mente tenha criado uma imagem a partir dos muitos filmes de terror que eu já havia visto. Por muitas vezes criei falsas imagens em minha mente, falsas expectativas, falsos sonhos, alarmes falsos. Por que será que é tão fácil repetir o mesmo erro de um segundo antes?

Ao olhar pra frente, percebi um grande quadro. A moldura em madeira nobre localizava-se na maior parede da sala. Não havia como entrar e não olhar diretamente para ela, não sei como levei tanto tempo pra perceber. O quadro me atraiu de uma maneira inexplicável, eu estava hipnotizada pela sua beleza, mas, se alguém me perguntasse, não saberia responder o que realmente estava contido nele.

Eu caminhei em sua direção e, a cada passo que eu dava, algo novo surgia no quadro. É como se, assim como a cor do céu, ele mudasse conforme os meus pensamentos. No começo havia apenas uma paisagem, um céu azul. O próximo passo chegou junto ocm uma figura humana. Cabelos pretos, com alguns fios caindo sobre os olhos, corpo de garota, mente com pensamentos de mulher. Olhei por alguns instantes tentando identificar a imagem. Era eu, uma cópia perfeita, talvez mais abatida que o normal, mas ainda assim eu me via. Ela estendeu a mão, e eu não entendia bem se era um convite ou um pedido de socorro. De repente eu ouvi uma voz. "Venha!". Eu não exitei. Toquei a moldura, acariciei o quadro inteiro, minha mão atravessou-o.


O que aconteceu a partir daí? Eu entendi finalmente o que as cartas queriam dizer. Acredito ter libertado a menina do espelho, quero dizer, o que eu havia vivido durante todo esse tempo, afinal? A verdade? Eu era apenas um corpo, eu era o vazio, o saco sem fundo. Eu não tinha fim, eu não pensava realmente. Eu era como um fantoche, não tinha vontade própria, não tinha sonhos reais, não tinha esperança. Eu vi a minha alma pintada em um grande quadro. Minha própria alma havia me enviado bilhetes. Minha alma não queria que eu a libertasse. Talvez este fosse o seu desejo porque meu corpo estava afogado em marcas de dor e imperfeição. Mas ainda havia coração e sentimentos escondidos em algum lugar por ali. O desconhecido era exatamente isso. O grande jardim era meu coração. A moldura era a passagem secreta. O caderno de anotações era o destino se cumprindo. O brilho era a esperança.


O que era todo o resto então? Era a simples vida. Mas o que seria da vida se você não tivesse motivo pra vivê-la?


Eu tomei minha alma de volta. Saí da floresta escura. Voltei pra casa. Deitei em minha cama.


Não, não vou terminar dizendo queera um sonho. Foi a mais pura realidade. A tão estranha realidade que nunca entenderei por completo...

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