os dias mais lentos
me prendem o pescoço
mas não me deixam saltar.
não só tiram o fôlego,
mas querem fazê-lo assim:
bem d.e.v.a.g.a.r.
e eu aqui, a divagar
pensei que esses dias
nem tão frouxos, nem tão apertados
criam um espaço em branco
uma tela entre o início da contagem e o fim
sabe-se lá quando, sabe-se lá do quê.
há um quê de desespero
que me impede de pintar
[ou de escrever, ou de rasgar].
me tira as ações diante da tela
rouba os gestos, reina a pressa
as mãos tremem sem rabiscar.
arrisco e ameaço:
aceito a tela branca
só vou desenhar pelos lados.
congestiono os cantos da moldura
canso e me rendo.
será que chegou a hora?
ora tato, ora paladar
pinto a tela sem tinta
escrevo sem lápis.
a obra é o próprio corpo
o próprio desejo, o vício, o medo.
a obra é a vida
a corda é o...
engulo o final:
os três pontos se encaixam.
na estrada infinita do branco
que se colore sem manchas de cor
ando em estado de hipnose.
já me contagiou a ida:
acordo num piscar de sonhos.
Um comentário:
Sempre se superando, rimando e amando. Linda!
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